quarta-feira, 28 de julho de 2010

Os senhores da terra.

Graças a deus que existem senhores da terra. As árvores não nascem sozinhas, muito menos as couves, as batatas, as cebolas, os alhos, a salsa e por aí a diante. Que seria de nós, vulgos mortais citadinos, apenas doutorados em consumismo descontrolado, se do nada, os agricultores fizessem greve ou simplesmente morressem? Sim, porque este extrato do fundo da cadeia das boas parecenças sociais e humanas está completamente envelhecido. Apesar de eu ser mais um a contribuir para esta estatística, ou seja, não me encontro de forma alguma ligado ao cultivo das terras, sei valorizar, respeitar e acima de tudo neste momento, homenagear os senhores da terra.

Estupidamente, o que sabemos nós sobre sementes? O que sabemos nós sobre plantação de sementes? Será que é só enterrar, deitar água e fez-se chocapic? Ou será que existe uma mestria que nenhuma escola poderá ensinar a não ser a prática e a convivência com as gerações a quem devemos a vida que temos?

Como comeriamos se nos vissemos obrigados a cultivar os nossos próprios alimentos, a manter rigorosos os nossos pastos, a efectuar as matanças necessárias á nossa própria subsistência? Estaria a nossa / minha geração preparada para assumir a sobrevivência dos nossos estomâgos?

É por isso que eu questiono, porque é que as pessoas citadinas na sua maioria, e não me venham com hipocrisias , gozam com a profissão de agricultor, com as populações serranas que mantêm vivos os pastos, e com todos aqueles que trabalham mais na vida do que qualquer médico, enfermeiro, advogado ou engenheiro?

Nunca saberemos as dores sentidas, as peles queimadas, os calos nas mãos, se não passarmos um dia que seja, sol a sol, a dar vida à nossa fértil terra e a colher mais do que um mero alimento...

Obrigado Senhores da terra, que plantam as couves, as batatas, as cebolas, os alhos, a salsa e por aí diante que alimentam os políticos que vos fodem.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Bem ou mal? É relativo...

O espanto domina-me quando sou apanhado em pensamentos invulgares. Desta vez divago no porquê de cada um ser como é. Estranha esta frase, mas no fundo não passa de uma verdade inquestionável para todos os comuns humanos. Cada vez mais acredito que somos um disco rigido na nossa totalidade mas com uma pequena, ou grande diferença: quando queremos eliminar um ficheiro, por vezes demora anos e anos e ainda assim a probilidade de sucesso pode ser quase nula.

Somos o que comemos, somos o que lê-mos, somos o que aprendemos, somos o que ouvimos e acima de tudo eu não acredito na teoria de somos o que quisermos. Desde a nossa nascença estamos limitados a certos caminhos e certas convicções, começando pelo facto de sermos criados num meio cristão, num meio muçulmano, num meio budista ou em qualquer outro meio, das centenas que há por esse mundo fora. Nessa fase primitiva, o nosso disco rigido começa a armazenar informação sobre todas as coisas com as quais lidamos. É nesse momento, que começam as primeiras divergências sobre o que é o bem e o que é o mal. É incrivel pensar nisto, como é que é possivel, entre humanos, supostamente todos diferentes e todos iguais, que haja várias interpretações para duas palavras tão simples como bem e mal?

Eu, por exemplo, irei achar sempre que matar inocentes é errado. Noutras culturas é banal e não se dá importância à poupança de vidas. E acho isso, porque cresci num meio que defendia a vida como bem mais essêncial ao homem. Como vemos, o meu crescimento limitou-me e por muito que eu agora queira apagar da minha cabeça que viver é que é bom, não conseguirei.

No fundo, no fundo, somos um disco rigido que raramente avaria. Quando avaria, a culpa não é dos chips; é de não sabermos colocar um chip em cima do outro.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Ano Xacobeo 2010 - 25 de Julho, dia de Santiago !

Talvez muitos achem que o Caminho de Santiago não mereça tanta importância. Talvez muitos achem que é banal e não poucos pelo mundo espalhados não o conhecerão. Ontem, 25 de Julho, celebrou-se mais uma vez o grande dia de Santiago, com a particularidade de este ser a um domingo, motivo pelo qual o presente ano, é considerado Ano Santo Xacobeo. Como peregrino a Santiago, apesar de não estar presente nas celebrações deste grande dia, vivi interiormente o sentimento de festa, de chamamento, de orgulho, de partilha, de busca e de encontro. É incrivel perceber a dimensão que os caminhos de Santiago adquirem nos dias de hoje, a forma exponencial como crescem, a quantidade crescente de peregrinos que o fazem, e mais assinalável ainda, o número de jovens que se encontram pelos trilhos de toda a península.

Só este ano, já cento e dezoito mil peregrinos cumpriram o seu caminho rumo ao Apóstolo; só no dia de ontem, mais de dois mil peregrinos solicitaram a sua Compostela na ofícina do peregrino. Para quem sabe o que é partilhar , viver e conhecer nos albergues, imaginar estes últimos dias nos arredores de Santiago é algo completamente surreal, mas fantástico.

Em breve será a minha vez, e garanto, que depois de tudo o que tenho visto na televisão em directo da Galiza, tudo farei para ser a experiência mais enriquecedora da minha vida. O mais incrivel no meio de tudo, é que não sendo esta a minha primeira peregrinação a Santiago, sinto-a como se fosse. Sinto que não conheço nada e quero conhecer tudo. Sinto-me a ser sugado para o Caminho. E partirei, com a minha mochila lotada de sonhos e esperança.

Se calhar, afinal, o Caminho de Santiago merece toda esta importância...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Abaixo sentimentos ! Abaixo sentimentos !

De hoje em diante não extravasarei qualquer sentimento. Salvo rara excepção será o sucedido nos próximos tempos, sendo contudo possível num qualquer isolado arco-irís pós tempestade, vislumbrar um esboço leve de uma espécie de ternura. Não me adianta martirizar-me com dúvidas, elas nunca existem, somos humanos, estamos sempre certos, o nosso ponto de vista é o mais válido sempre, e invariavelemente mandamos com a cabeça na parede no final das contas.

Se por vezes os sentimentos não são percebidos, não poucas vezes também parece que são invisíveis; passam diante das pessoas, mesmo debaixo dos olhos e elas olham para as estrelas, como se delas, ou do alto, viessem mais do que pequenas fracções de meteoros.

Outras ocasiões, são aceites com indiferença, ou por outras palavras, não são aceites. Parece que o acolhimento de alguns sentimentos gera repulsa, como se de uma questão de racismo se tratasse. A propósito de sentimentos nunca imaginei que um slogan de uma campanha anti-racismo se adaptasse tão bem à questão sentimental e como avaliamos as novas pessoas que entram na nossa vida: " Todos diferentes , todos iguais ". Quando assim é, corremos o risco de confundir o amigo de infância com o serial killer do último policial que lemos. Acho que percebem o que quero dizer.

Sentimentos não correspondidos, sinceramente não são problema, se não forem ofendidos na sua simplicidade e na sua inocência. Todos somos livres de gostar. E que falta faz ao mundo, gente que goste a sério de alguma coisa.

Mas como, mesmo sentindo, simples e somente, os mal-entendidos conseguem ser parasítas atrofiantes da vida , pelo visto, de hoje em diante não extravasarei qualquer sentimento.

domingo, 11 de julho de 2010

Simples.

Olhei para o céu que estava cinzento,
já não respirava como em outro tempo,
parei para sentir a dor do momento
e seguir, para onde o coração me levasse,
e esperei, que a chuva passasse por nós...

Caminhei pela calçada, sem rumo e sem nada,
foram dias sem história, uma eterna madrugada,
em que via o teu olhar numa foto imaginada
por mim, que só queria mais que tudo
chegar a um silêncio mudo que nos deixasse
a sós.

Agora sinto o sol a queimar-me em tudo em mim,
sinto a força do que somos, quando parecia ser o fim,
e se um dia te sentires como eu me sinto, assim
simplesmente, a querer ter-te por perto
porque mesmo no deserto, vou ouvir a tua
voz.

sábado, 3 de julho de 2010

O casulo.

No silêncio é onde se dizem as palavras mais correctas, quissá as mais verdadeiras, por certo as mais sentidas. Da vida consigo retirar a existência de duas espécies, nós e quando digo nós refiro-me ao "eu", e os outros e quando digo os outros meto tudo no mesmo saco; os amigos, os conhecidos, os mais ou menos conhecidos, os inímigos e a escumalha. Travamos ao longo da vida um eterna batalha de conquistas e perdas e se querem que vos diga, a pior arma destruídora deste mundo são os filhos da puta dos mal-entendidos. Importante dizer que no saco dos mal-entendidos também coloco uma ou outra coisa; as imcompreensões, as hipócrisias, as mentiras, as suposições sem o mínimo fundamento, os juízos de valor de " advogados " corruptos e outra filha da puta que não á meio de morrer: a falsidade.~

Contudo, quando falamos por sentir verdadeiramente, somos os maiores cabrões da face da terra, somos mentirosos, somos falsos. Se sentindo não falarmos é porque não combatemos com lealdade contra as entranhas da vida, e somos apelidados de novo, de fracos, falsos e mentirosos. Ainda assim, se por acaso um dia se deixa de sentir, falando-se ou não falando, vomitando ou não vomitando aí passamos nós a ser os maiores filhos da puta caminhantes nesta terra. Meus ricos, é a lei da vida. É por isso que ainda mantenho a esperança de um dia conseguir ser um traídor, dos mais nojentos que se vêm pelas esquinas. Assim não tenho de me preocupar com as reacções de ninguém, nem tenho de me justificar perante os meus próprios príncipios.

Até hoje, ser sincero, ser directo, e falar, trouxe-me maior percentagem de merda á vida, do que de sorte. Ainda assim, os 49% correspondentes á sorte devo-os os eternos, que sabem quem são.

Silênciar-me-ei, para sempre, no casulo dos príncipios.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Lamento...

Os livros deveriam ser para o espírito, como o pão é para a boca, já o afirmava Saramago. Por estranho que possa parecer, nos dias de hoje, sou gozado por dar tanto valor a linhas, a páginas, a capítulos, a histórias, e nessa profunda confusão que paira em redor dos espaços onde me movimento, cada vez mais me vejo como um jovem de uma geração perdida. Na mente da maioria dos aspirantes a adultos, em todas as suas dimensões e responsabilidades, desenvolveu-se uma teoria que dissocia a leitura da vida tão atarefada que possuem e onde por exemplo já se eliminou das rotinas o simples sentar num banco de jardim á sombra a ler um livro na maior das descontrações. Hoje em dia expande-se mais a geração dos Nokia Express Music com volume no máximo, dos charros, das mocas brutais, e do fazer sem pensar.

Mas isto sou só eu, deslocado deste tempo nas minhas convicções, a divagar por campos dos quais nada percebo.

Tudo isto, para lamentar a minha entrada hoje numa livraria, e constatar que a subida de 1% do I.V.A. fez com que um livro de 14 euros, passasse para 16 euros e meio. E eu pergunto-me: Que 1% é este? Que contas são estas? É assim que vão tornar a sociedade mais letrada e mais culta? Ou regressamos ao tempo em que a literatura e a educação só estavam ao dispôr das elites?

Lá terei eu que abdicar de mais 2 pequenos almoços, 2 cafés e mais qualquer coisa, para conseguir comprar mais um livro.

Lamento isto e tudo o resto citado, embora só ao de leve.