segunda-feira, 16 de abril de 2012

O caminho ainda vive.

Se um dia no passado inconscientemente me fiz à estrada sem saber verdadeiramente o que me movia no fundo, foi através dessa mesma inconsciência que me tornei naquilo que sou hoje e que mantenho a admiração e vício nos Caminhos de Santiago de Compostela. Decidi rebuscar este tema não por nenhum motivo em especial, mas simplesmente porque num dos tantos momentos em que me perco em pensamentos dei por mim de mochila às costas desprendido da crueldade da rotina, a viajar ao mais fundo do mim mesmo, a decifrar as minhas próprias convicções e a preparar-me para correr atrás dos meus próprios sonhos. Cada vez mais acredito, que a experiência do Caminho de Santiago só poderá ser compreendia depois de ser vivida na sua magnitude, na sua unicidade e partilha sincera de vivências. Tive a sorte, como grande parte dos peregrinos terá, de me cruzar desde a primeira vez, com pessoas absolutamente fantásticas, que mesmo estando hoje algures num lugar longínquo da terra, é como se estivessem à distância de um simples flash de memória, um abrir e fechar de olhos.

Apesar de durante as caminhadas por vezes o incómodo físico nos martirizar, é incrível a forma como tudo isso é ultrapassado e esquecido no momento em que se entra nas portas da cidade de Compostela, e mesmo no dia a dia do caminho, o espírito de reabilitação colectiva que reina nos albergues de peregrinos onde nunca falta um gesto, uma palavra ou uma mão que se estende e nos faz superar o desanimo, continuando rumo ao norte no novo amanhecer.

No que me diz respeito haverá pessoas que estarão intimamente ligadas à minha experiência Jacobeia, pelo que aprendi e vivi com elas, e pelo que elas ainda hoje dedicam a esta causa, num espirito de abertura e entrega pouco visto nos dias de hoje. Ainda antes de se dedicarem ao trabalho em prol dos caminhos, partilhei com algumas delas a experiência do ser peregrino, mais que uma vez, pelas terras do Minho e da Galiza. Mais do que uma experiência peregrina afincou-se nos trilhos uma relação de amizade que só algo transcendente poderá compreender e talvez justificar. São amizades que nem os anos, nem a distância conseguirão eliminar e com toda a certeza voltarão a cruzar-se comigo em algum lugar, não necessariamente de mochila às costas, mas com bagagens intermináveis de recordações.

E como não só de passado e caminhadas já efectuadas vive o caminho, e como não só o caminho me trouxe páginas marcantes da minha vida, sonho profundamente voltar e partilhar no terreno com quem me é mais especial, a experiência, a partilha e o espirito albergado naquelas terras. Elsa, é com tanto orgulho que te relato tudo aquilo que já vivi, que simultaneamente adorava que conhecesses algumas das pessoas que me ajudaram no caminho, a hoje em dia ser a pessoa que sou. Tenho a certeza que um dia irás compreender por dentro tudo isto que digo e que tu também recordarás os “ nossos caminhos de Santiago “ como páginas memoráveis da nossa vida e da nossa ligação.

Por fim, quero mais uma vez agradecer, fundamentalmente a todos os que estão ligados ao projecto delicioso que é o Albergue da Recoleta, em Barcelos, no qual se sente com grande simplicidade o espirito voluntário aliado ao espirito peregrino. Tomo a liberdade de referir alguns nomes, na esperança que o sintam como recordação, congratulação e saudade. Filipe, Carlos, Umbelina, muito Obrigado.

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