segunda-feira, 16 de abril de 2012

Um regresso nas Beiras.

Regresso ao primitivo, regresso a dentro de mim mesmo. Alguns meses após a minha última caminhada por trilhos selvagens, regressei hoje á essência do mundo perdido e esquecido dos mapas e mais uma vez fui completamente surpreendido pela magia agreste e campestre das Beiras. Talvez sejam poucas as pegadas que marcam aquelas terras, talvez menos ainda sejam os interesses em as pisar, o que no fundo até acaba por ser positivo, podendo elas manter-se preservadas dos ainda mais selvagens humanos caminhantes de selvas de betão. É fascinante a imprevisibilidade de cada paisagem, a história cravada em certos recantos como um simples moinho abandonado, que de súbito sob as nossas mãos ganhou novamente vida funcionando na perfeição. Nestas pequenas e rápidas incursões ao verdadeiro mundo natural, alimenta-se exponencialmente o meu sonho de um dia, algures perdido numa vertente montanhesca, surgir o meu lar.

Sensação alucinante é também o facto de nos instantes em que nos deixamos dominar por todo o poder e absorção da natureza parecer que eliminamos da nossa memória a velocidade furiosa e suja citadina, como se todo o mundo cosmopolita não fosse mais que um pesadelo assustador que um lúcifer qualquer nos tem trazido nos sonos. Com isto não quero dizer que as cidades não escondam também recantos mágicos, históricos noutro sentido mais frágil, porque tudo o que o homem semeia, tem também o poder de destruir.

Recentro de novo o meu discurso na surpresa que hoje eu senti ao abrir as portas do carro e me entregar ao desconhecido, ao silêncio, à sensibilidade das árvores escorridas, ao riacho que corre sem tempo nem pressa chegando somente onde tiver de ser. Tudo se transforma harmonicamente e parece um puzzle sem peças em falta, onde todas encaixam em perfeição nos seus respetivos limites. Coincidentemente, estas caminhadas de descoberta têm assumido literalmente esse significado na minha vida e no suporte de muitas das minhas opções de hoje, porque junto de ti, tenho desfrutado e vivido dos sentimentos mais naturais e genuínos que nós enquanto humanos temos capacidade de aproveitar.

Por vezes é difícil conhecermos o mundo sem nos conhecermos a nós mesmos, e será ainda mais difícil acreditarmos em certas coisas se não acreditarmos em nós próprios primeiro. E se hoje venho aqui cantar um simples dia passado na magnificência de uma floresta perdida, é porque tu me tens feito encontrar-me a cada amanhecer e continuar a valorizar as minhas “ antiquadas ambições de felicidade “. Voltámos aos trilhos, voltámos aos origens, e porque o espirito da Linha do Tua se mantém aceso sem que a chama diminua, apetece-me também dizer-te que o meu espirito e a minha confiança nos nossos passos permanece intocável.

Se hoje tudo fez sentido, e o regresso ao mundo me tocou assim, é porque tu também és parte fundamental de tudo isso.

Hoje pela Beira-Alta, amanhã igualmente juntos.

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