quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O meu Caminho no Xacobeo 2010.

Após alguns dias de descanso, consciencialização e reflexão acerca da minha última semana do ano de dois mil e dez, parece-me ser a hora de libertar as minhas impressões sobre o sucedido nesses dias. Não sendo a primeira vez que me propunha a realizar o Caminho de Santiago, esta caminhada efectuada de vinte e seis a trinta de Dezembro adquiriu um papel que toca nos limites das minhas eternas recordações. Não só por ser o Caminho de Santiago. Não só pelo sofrimento. Não só por ser o final do Ano Xacobeo dois mil e dez. Não só pela passagem da Porta Santa. Adquiriu este papel, pelas pessoas, pelos momentos, pelos fracassos momentâneos e pelas glórias finais.

Tinha prometido a mim mesmo, que de uma maneira ou de outra, iria a pé a Santiago Compostela no Ano Santo 2010 e com todas as contrariedades típicas da vida humana isso só me foi possível de tentar, na última semana do ano. Ou era, ou era.

Meti na cabeça que seria mesmo, apesar do Inverno, apesar do frio e da chuva, apesar do limite de tempo que me estava imposto. Não contava que, ao contrário das outras vezes, o meu corpo reagisse da forma que reagiu. Quando digo corpo, refiro-me concretamente aos meus joelhos e ao dedo mindinho do pé esquerdo que possuí-a uma bolha num estado deplorável. Os meus últimos 4 dias de caminhada foram agonizantes. E para conseguirem entender esta agonia têm de viajar até ao sentido mais frio e mais cru que esta palavra possa assumir. Caminhei torto, caminhei de costas, caminhei de lado, caminhei sustentando todo o meu corpo na vara que me ajudava na marcha. Foram de facto momentos que jamais apagarei da minha memória e que tornam de facto reais certas frases que ecoam em Santiago, como por exemplo, " No pain, no Glory ". A maioria das minhas noites foram em claro, porque as dores não me permitiam repousar na terra dos sonhos e desta forma conseguirão ter uma noção de como se comportava o corpo no dia seguinte.

O certo, e mais certo que isso não há, é que cheguei a Santiago na data prevista, num estado não previsto, e pude agradecer ao Pedro e ao Tiago mas essencialmente a mim mesmo, por ter tido força psicológica para enfrentar mais e mais um dia. Concretizei o meu objectivo de passar na Porta Santa que se fecharia por 11 anos poucas horas depois e abracei Santiago com o pensamento: " Eu disse-te que te vinha cumprimentar ".

Não poderei esquecer as pessoas que se cruzaram comigo no Caminho, entre as quais a Joana de Lisboa, o Senhor Sousa de Ronfe, um austríaco para o qual todos os dias do ano são natal e por isso passar o natal no caminho era normalíssimo, e o famoso saltador espanhol Jimmy Jump, conhecido por saltar para dentro de relvados de futebol, com quem falei sobre as suas loucuras algum tempo ( ele vai por um gorro na cabeça do Mourinho ).

Desta feita, acabei o ano no topo das minhas emoções, com recordações para a minha vida inteira e espero que sem problemas crónicos nos joelhos. A vontade de regressar já ao caminho é imensa; Santiago é de facto, vivência, superação, auto-conhecimento e partilha.

Até já , Santi.

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