segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A data social.

Aproxima-se o Natal, enchem-se os centros comerciais, esvaziam-se as carteiras, vemos pessoas gastarem o que têm e infelizmente, o que não têm, como se de prendas caras e vistosas se fizesse o bem estar e a felicidade nos outros 364 dias do ano. É uma altura do ano caracterizada pela união familiar ( dos que se podem e querem unir ), pelo excesso de comida ( da qual grande parte é excesso e acaba no caixote do lixo), pelo visionamento de filmes ( raras vezes repetidos no Natal dos anos anteriores ) e pelo acto simbólico do nascimento do bebé Jesus ( que segundo se sabe nem nasceu nesta data ).

Se formos analisar bem as características do Natal anteriormente enumeradas, repararemos com rápido raciocínio que aquele que deveria ser o ponto mais importante, supostamente claro, é talvez dos pontos menos lembrados; o bebé Jesus. Ora assim sendo, a entrega de presentes, acto simbólico relacionado com o nascimento deste bebé, deixa de fazer qualquer sentido. Parece-me que o dia de natal se tornou um dia de moda, como tantos outros, em que o significado real do dia, passou para último plano, encontrando apenas um caminho para que a economia, se possa aproveitar dessa data para empobrecer ainda mais as pessoas, pessoas essas que têm de "mostrar" estar socialmente bem quando se reúnem em magno encontro familiar.

É tão bom recordar os tempos em que as pessoas recebiam uns sapatos novos no natal e ficavam com um brilho nos olhos e andavam com os sapatos novos semanas a fio com um orgulho estampado no rosto. Hoje em dia vulgarizaram-se as prendas; recebemos prendas pelo natal, pela Páscoa, pela positiva a matemática, por tudo e por nada. Pior que isto ter chegado ao ponto que chegou, é nem sequer pensarmos um pouco que seja, 10 segundos, 5, nas pessoas que não têm sequer possibilidade de ter uma refeição quente no dia de natal. Pessoas para quem uma playstation, uma game-boy, uma viagem ao Dubai ou um carro topo de gama, não significam rigorosamente nada comparando com um prato de comida quente.

Como não posso alterar esta realidade podendo somente lamentá-la, deixo pelo menos um pedido; quando pensarem num presente, lembrem-se daquilo que vos faz viajar de forma barata, que vos dá cultura e desenvolve o vosso espírito crítico e que contribui, mais que quase tudo para o vosso crescimento pessoal. Ofereçam livros.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O meu pós-jantar de curso.

Hoje foi dia de jantar de curso. Hoje foi dia de juntar diferentes gerações, diferentes opiniões, diferentes comportamentos, diferentes tipos de bebidas e diferentes tipos de consequências por ingestão das mesmas. Hoje foi mais um dia de não ir para a discoteca, que como é sabido, é local onde muito raramente me encontrarão. Hoje é mais um dia de breve reflexão.

Recordo-me vivamente dos meus quinze, dezasseis anos. Que idade louca. Recordo-me como se fosse hoje da primeira vez que entrei no RH, no mítico RH. De recordação, trago precisamente o facto de nessa idade não dar uso ao sentido crítico que hoje em dia me caracteriza. À medida que a vida me foi brindando com presentes fora de validade, estragados, podres, em estado de decomposição, caducos, progressivamente foi aumentando o meu afastamento dos espaços lotados de fumo e de inconsciência. Peço desde já desculpa aos casos raros e particulares de postura digna em estabelecimentos nocturnos. Comecei pura e simplesmente a desfrutar de espaços diferentes, mais conscientes, mais regeneradores e que no fundo preenchiam todos os cantos do mapa da minha realização pessoal.

Tantas e tantas vezes lidei com estupefacção da parte de colegas, amigos, conhecidos, curiosos e ignorantes. Jamais me esquecerei do dia, em que na Figueira da Foz, abandonei o meu grupo de amigos a meio de umas férias alcoólicas, para ir fazer o Caminho de Santiago de Compostela. Jamais me esquecerei das suas piadas, das suas ligeiras ofensas, e das suas lamentáveis questões. É neste momento que me recordo da frase: " Portugal tem mais discotecas que bibliotecas".

Na pluralidade que é o ser humano, julgo ter direito a ter uma vida à minha maneira. E penso eu, que não é crime, ser indiferente à existência de discotecas. Penso também não ser crime, deslocar-me a estas muito, muito raramente. Quero acreditar também não ser motivo de julgamento o facto de ler, escrever e reflectir.

Eu sei caros amigos, que o mundo nada beneficia dos meus devaneios. Mas posso garantir-vos que antes da realização universal, vem a realização pessoal, minha, vossa e de qualquer um.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Um Nobel trancado.

Existem países estáveis, países ricos, países pobres, países militarmente potentes, países militarmente medíocres, países com regimes democráticos, países com regimes ditatoriais e no fundo países onde se vive, na verdadeira ascensão da palavra, e onde não se vive. Analisando aquilo que eu, vulgo mortal, conheço da China, vejo um país financeiramente milionário, militarmente capaz de vencer uma guerra contra qualquer outro, mas no fundo, vejo um país de gente infeliz, presa na sua política e na falta de liberdade de expressão, um país de Máfia e de abusadores, de assassinos de crianças à nascença, de mutilações genitais nas mulheres, e onde a última coisa que se pode pensar, é na oposição ao regime.

Liu Xiaobo, dissidente chinês, lutador pelas causas sociais e pela liberdade de expressão num país praticamente impenetrável, foi condenado a 12 anos de prisão efectiva por ter desejado uma vida melhor e em liberdade, para si e para os milhões de chineses que vivem trancados nas suas revoltas. Toda a sua luta foi reconhecida tendo-lhe sido atribuído o prémio Nobel da Paz do ano 2010, prémio este que nem sequer se sabe se ele já teve conhecimento de ter recebido. O seu lugar, na cerimónia de entrega, ficou vazio; o lugar da sua mulher, ficou vazio; o lugar do governo chinês, ficou vazio e ainda pediram o boicote de outras tantas nações a este gesto, o qual consideram uma grande ofensa para a sua China Imperial.

Eu vulgo mortal, através das minhas simples palavras, gostava apenas de neste espaço fazer ecoar o nome de Liu Xiaobo, na esperança que ele saia vivo da prisão onde vive completamente incontactável e possa um dia ter nas suas mãos o tão merecido Nobel da Paz.

Não levando a situação ao extremo da anteriormente relatada com resumida descrição, estarei para ver, quantos Liu Xiaobos portugueses serão silenciados nos tempos que se avizinham em oposições ao governo, principalmente entre os meios de comunicação social. Essa saga já começou...

Eu, em nome do que acredito, nunca me irei silenciar.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Nasci no tempo errado.

Ensinaram-me a viver a vida ao máximo. Ensinaram-me também que não me devo descuidar daquilo que é o mais importante. Segundo esses, o mais importante é a escola e nela encontrarei um bom futuro queira deus e queiram os astros. Mas na escola não aprendi 1% sequer daquilo que já aprendi fora dela. Estranha realidade.

Consome-me o facto de perceber, que vivendo eu a minha vida na amplitude que me é permitida, não consiga em simultâneo obter sucesso nos diversos caminhos e nas diversas batalhas. Consome-me o facto de constatar que serei mais um formatado quando terminar o ensino superior, ensino esse cheio de corrupção, cheio de hipocrisias e desigualdades, cheio de utopia, e tão vazio de crescimento ao nível dos valores humanos.

Felizmente, tive o privilégio de crescer dentro de um grupo escuteiros, que me permitiu ver o mundo como algo que ainda vai a tempo de ser preservado. Infelizmente, muitas vezes é graças a esse mesmo grupo de escuteiros que fracasso naquilo que alguns dizem ser o mais importante, que repito, é a escola. O certo, e mais certo que isto não há, é que no dito ensino superior, o que mais se vê são gerações perdidas, ovelhas tresmalhadas diria Saramago, que no fundo, no meio do álcool e demais substâncias, finalizam mais rapidamente que eu os seus percursos académicos. Quis deus e os astros que assim fosse.

Sinceramente já não sei em que acredite. Sinceramente cada vez mais me sinto um deslocado do seu tempo. Cada vez acredito mais que nasci na década errada. Merda de realidade, esta.