sexta-feira, 18 de junho de 2010

Por tudo, para ti, José Saramago !

Por tudo. Primeiro que tudo o resto, por toda a tua insubmissão, independentemente do tema. Aqui reside para mim, a palavra que mais te caracteriza: insubmisso. Sem nunca te venderes á ideologia de ninguém, sem nunca te condicionares pelo túmulto que as tuas palavras pudessem causar, sem nunca cederes nas maiores controvérsias que enfrentas-te, sem nunca recusares ou esconderes o teu brilhante génio interior, imortalizas-te o teu nome para sempre na nossa cultura, na nossa sociedade e naqueles que te seguiam no teu inconformismo.

Seguis-te o teu rumo por paragens, digamos que, tão tuas, rumo esse criticado por nacionalistas de café, políticos de esquina ou ideólogos de coreto de aldeia, seres condicionados pela visão do seu próprio umbigo e mentalmente limitados, graças á abertura que trouxes-te ao nosso tempo, destapando crenças e denunciando páginas rasgadas.

De ensaio em ensaio, viajas-te em jangadas de pedra, pedra preciosa que ias lapidando ao longo de linhas históricas e eternas, e nem mesmo quando as intermitências da tua morte começaram a dar sinais de si, abdicas-te de nos permitir a leitura do testemunho legítimo e desejado do Caim, que ainda hoje brinca ao gato e ao rato com o amigo com quem partilha a história; os leitores saberão quem é.

Mereces um Memorial, mereces que ensaiem sobre ti, e por respeito ao que nos deixas espalhado pelo mundo em língua portuguesa, mereces que a cegueira que invade constantemente a nossa sociedade se dissipe, e que a lucidez, a verdadeira e pura lucidez, invada a nossa capacidade de pensar, decidir e agir.

Não me despeço sem deixar aqui , uma frase de Pessoa, que também a ti te disse muito.

" Põe quanto és, no mínimo que fazes ".

Por ti, José Saramago.

P.s. - Com todo o respeito, a personagem literária que neste momento mais me ocorre, é o Elefante Salomão, de " A viagem do Elefante ". Após tanto esforço, partiu incompreendido. Do sítio de onde estás, escreve-nos.

Um comentário: