Por muito que me esforce para conseguir entender os
nervos em que a humanidade se afoga e suicida em cada minuto do mundo sereno
que gira despreocupado com o resto do universo, não consigo compreender. E mais,
o mundo não nos deu razões para isso. Ele não pede que vivamos com pressa, não
pede que corramos, não pede que nos matemos porque ele próprio sabe que um dia
voltaremos a ser pó. O mundo não pede brusquidão, ofensas, nervosismo,
insultos, quem o pede são os homens e não todos, só aqueles que por não terem
coragem nem capacidade de singrar na vida do ponto de vista da humildade e de
uma conduta digna, socorrem-se do apelo ao caos, de supostos deuses nunca
vistos, de dinheiro que arde como qualquer outro papel, dos frágeis. No fundo,
o mundo está assim porque os homens se transformaram em vermes.
Com tudo isto a que o mundo já se vendeu, torna-se
praticamente impossível um vulgo ser humano fazer o que quer que seja ou
convencer alguém de que ainda é possível ser-se feliz. Felicidade, o que é isso
perguntam-se a maioria das pessoas porque no fundo, por muito que digam o
contrário, já não acreditam que é possível ser-se feliz. Melhor, hoje em dia,
dinheiro é felicidade total.
Se calhar sou pouco homem, precisava de um bocadinho mais
de tomates para seguir silencioso no meio da multidão sem me lamentar. Se
calhar o meu mal é tentar. Se calhar o meu defeito foi sempre acreditar em
valores perdidos. Se calhar, simplesmente não percebo nada de pessoas. No fundo
talvez nem perceba nada de mim próprio.